sábado, 27 de novembro de 2010

Capitulo IV

           Saindo da escola percebi que meus pais não me esperavam, quem pairava sobre o muro de minha escola era Oliver. Meus pais haviam, aparentemente, desaparecido. Andamos até chegarmos a nossa casa, o almoço já havia sido preparado e a mesa estava disposta em sua devida ordem. Percebia pelas fisionomias de meu irmão que esse não se sentia contente com a nova experiência que vivíamos, porém, não sabia se aquelas feições derrotadas seriam apenas devido à complexidade da situação passageira que os encontrávamos, ou se era devido aos mesmos motivos misteriosos pelos quais Oliver choramingava discretamente em seu quarto durante a noite.
     Mais uma vez ele me proibira de assistir televisão. Dessa vez concretizei minhas ideias de que algo grandioso e complexo estava por vir, novamente. Talvez fossem esses os motivos das preocupações de meu irmão, talvez ele pensasse não suportar ser derrotado novamente. Oliver havia vivido mais intensamente esta época. Ele era apenas um menino, tal qual eu mesmo era agora, e tal qual meu pai havia sido outrora. Meu irmão já não exibia mais suas faces alegras há algum tempo. Era raro iluminar-se seu semblante, e mais raro ainda um sorriso autentico. Ele havia se tornado um menino sério, preparando-se para ser um homem digno assim como seu pai. No entanto, a apenas uma semana de se tornar o que meu pai chamava de “homem feito”, Oliver, aparentemente, passava a temer o que antes desejava. Continuava a ler e reler o mesmo livro, porém, agora fazia rápidas anotações de ideias nas páginas já amareladas, ideias suas ou do autor do livro que considerasse importantes. A cada vez que meu pai parecia o parabenizar, ou apenas citar a idade futura de Oliver, esse estremecia e ficava pálido, de olhos preocupados como se visse que seu destino seria trágico. Então, as conversas e discussões entre ambos no escritório de meu pai haviam se tornado cada vez mais freqüentes. Pelo o que pude escutar através das paredes de meu quarto, ambos divergiam seriamente de opiniões, enquanto Oliver se desesperava, pois estaria com dezoito anos nas semanas seguintes, meu pai considerava isso um trunfo. Oliver, no entanto, não era o único que parecia preocupado com a situação. Minha mãe também não parecia muito satisfeita com as ideias para com Oliver.
       Desanuviei, então, minha mente e voltei-me para a menina do colégio. Percebi que tinha a tarde livre. Oliver estava tão absorto em si mesmo que esquecera que deveríamos ter começado a estudar linguagem a cerca de meia hora atrás. Pus-me na rua, meu irmão não pareceu perceber. Caminhei a devida distância até avistar a casa branca de vigas altas. Dirigi-me, um tanto instintivamente, ao muro baixo que costeava os fundos da casa. Sabia que minha carta já não se encontrava ali, e fui, então, apenas averiguar o local. Encontrei, entre alguns arbustos frutíferos, um pedaço de papel alaranjado, um tanto manchado da terra que o encobria. Pasmei por alguns segundos, mas logo minha ansiedade reagiu e furtou a carta dos arbustos. Era escrita em uma letra miúda e de fôrma, arredondada. Era sua resposta para a carta que eu havia escrito dois dias atrás. Estava incrédulo. Rasguei o papel o mais rápido que pude e me pus a ler as letrinhas miúdas que ela escrevera. No entanto, o tamanho de sua caligrafia não era a única coisa que dificultava minha leitura. As palavras escritas ali não eram conhecidas por mim, nem sua semântica nem sua ortografia, apesar de me soarem familiares.

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